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Para que serve a História?

“Para quem não tenha a alma pequena e vil, a experiência da História é de uma grandeza que nos aniquila.”[1]

Se a frase de Marrou não for o suficiente para exaltar a história em seu devido lugar nos corações e mentes de toda pessoa que valorize o conhecimento, seja como um modo de emancipar-se socialmente ou intelectualmente, cito outro grande historiador, Marc Bloch disse: “Mesmo que julgássemos a história incapaz de outros serviços, seria certamente possível alegar em seu favor que ela distrai (...) Pessoalmente (..) a história sempre me divertiu muito.” [2] Logo, mesmo que a história não contribuísse de modo prático, (Contribui!) ainda assim, a experiência do conhecimento histórico nos emociona por si só, nos elevando para um mundo de imaginação e prazer pelo conhecimento, Georges Duby reforça :

“Para que serve a história? A história é, antes de tudo, um divertimento: o historiador sempre escreveu por prazer e para dar prazer aos outros. Mas também é verdade que a história sempre desempenhou uma função ideológica, que foi variando ao longo dos tempos” [3].

Ressaltado estes valores, que para mim são essenciais, não deixemos de recordar o papel do conhecimento histórico profissional (ciência histórica) na vida dos homens. Ainda que os raciocínios históricos sejam construídos de inúmeras formas, é através do rigor e método da ciência histórica que distinguimos a percepção popular do saber profissional. Por exemplo quando distinguimos as diferenças entre memória e história, este último que nos abre caminhos para a construção de uma mentalidade crítica que seja capaz de enxergar o ambíguo e o contraditório. A consciência histórica em nossas vidas é fundamental para nos localizarmos em um mundo que requer posicionamentos firmes. Principalmente na atualidade, onde observamos tentativas de apagar a história e as lutas que nos trouxeram até aqui. Na definição de Jörn Rüsen entendemos este conceito como: “[...] se entende consciência histórica a suma das operações mentais com as quais os homens interpretam sua experiência da evolução temporal de seu mundo e de si mesmos, de forma tal que possam orientar, intencionalmente, sua vida prática no tempo.”[4]

Assim sendo, a consciência histórica nos fornece elementos para nos posicionarmos frente às intempéries e condições desfavoráveis, inclusive em aspectos que regem o nosso cotidiano, mas que vão para além de nosso entendimento biológico da vida (nascimento, crescimento e morte). Ou seja, adquirir consciência histórica é imprescindível para respondermos questões elementares como “Quem eu sou, de onde eu vim e para onde vou?”. É uma ferramenta que possibilita nosso entendimento acerca da sociedade e da construção da civilização em toda sua complexidade, seja em nossa casa, na cidade, no país, etc.

No campo teórico a história fornece esclarecimento sobre os processos que ocorrem no tempo histórico, nos ajudam na compreensão do tempo para além de nossas breves vidas. Distinguindo a selvageria do homem das suas produções filosóficas e metafísicas. Constrói-se teorias e explicações que permeiam nossas vidas, como o materialismo histórico, luta de classes dentre outros conceitos fundamentais que analisam e descrevem as causas, hipóteses e sínteses das experiências humanas ao longo do tempo.

No campo político, nos orienta para as tomadas de decisões individuais e coletivas, nos ajuda a escolher a direção que seguiremos enquanto indivíduo e sociedade, penso que conhecer á história é um dos primeiros passos para militarmos por aquilo que acreditamos de forma consciente, ou melhor, é a própria construção de uma consciência e da nossa sensação de pertencimento no mundo, da compreensão de nossa realidade.


Citações: [1] MARROU, Henri-Irenée. Sobre o conhecimento histórico. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1978. [2] BLOCH, Marc. Introdução à História, op. cit., p. 77. [3] DUBY, Georges. “O historiador, hoje”. In: DUBY, Georges, ARIÈS, Philippe, LADURIE, E. L. R., LE GOFF, Jacques (org.). História e Nova História. Lisboa: Teorema, s/d, p. 16. [4] RÜSEN, Jörn. Razão histórica. Teoria da História: os fundamentos da ciência histórica. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 2011. Pg 57. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

BLOCH, Marc. Introdução à História. Lisboa: Publicações Europa-América, 1997.

_______. Apologia da história, ou o ofício do historiador. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2001.

DUBY, Georges. “O historiador, hoje”. In: DUBY, Georges, ARIÈS, Philippe, LADURIE, E. L. R., LE GOFF, Jacques (org.). História e Nova História. Lisboa: Teorema, s/d.

LE GOFF, Jacques. História e Memória. Campinas: Unicamp, 1994.

RÜSEN, Jörn. Razão histórica. Teoria da História: os fundamentos da ciência histórica. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 2011

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